Apego ao Eu

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Os pensamentos são tremendamente sedutores. Quando vêm sem serem notados, têm um poder compulsivo; tornam-se os ditadores da mente. Mas, quando são notados, percebemos que o único poder que os pensamentos têm é o que lhes damos. Vemos que os pensamentos em si são o pensador, mas não existe nenhum “ego” atrás deles para que estejam acontecendo. À luz da percepção, os pensamentos muitas vezes se dissolvem no momento mesmo em que os notamos. Vemos sua natureza essencialmente vazia, transparente, sem substância. Notem a diferença, em sua própria experiência, entre estar perdido em pensamentos e ter consciência deles.

O senso do eu também surge fortemente quando nos identificamos com várias emoções, como raiva, felicidade, tristeza ou alegria. Essas são experiências mais amorfas que os pensamentos e por isso mais difíceis de ver claramente. Embora os pensamentos possam deslizar para dentro da mente sem serem notados, ainda têm um início e fim definidos. As emoções são mais complexas, envolvendo sentimentos no corpo, pensamentos ou imagens e diferentes estados de espírito na mente. Quando não estamos atentos, é fácil personalizar as emoções, acreditando que são o “eu”. Acontece com muita frequência em nossas vidas: “estou zangada”, “estou feliz”, “estou triste”. E solidificamos o senso do “eu”, ainda mais quando passamos de “estou zangado” para “sou uma pessoa zangada”. Neste instante, criamos não apenas um momentâneo senso do eu, mas também uma autoimagem duradoura. Construímos toda uma superestrutura em cima do que são na verdade apenas condições efêmeras e mutáveis.

É possível libertar-nos dessa contração energética que se transforma quando vemos como as emoções surgem de determinadas condições e novamente desaparecem no céu claro e aberto da percepção. Uma maneira de fazer isso é concentrar-se em sua natureza contingente, prestando atenção à maneira como as emoções são deflagradas e depois alimentadas por pensamentos e imagens não notados. Podemos estar vivendo nossas vidas e de repente um rápido pensamento ou imagem surge em nossa mente e talvez agite a lembrança de algum acontecimento ou a antecipação de um acontecimento futuro, que pode, então, de súbito, inundar a mente com uma emoção forte. Tudo acontece muito depressa. Quanto melhor entendermos que as emoções surgem de combinações de condições, menos as personalizaremos. Isto não significa não sentirmos essas emoções, mas sim que permanecemos livres na experiência transitória da emoção, qualquer que seja ela.

Joseph Goldstein, Dharma: o caminho da libertação

Mostrando 2 comentários
  • Dud's

    oi querida,
    ótimo texto, bem reflexivo. Os pensamentos e as emoções proprias muitas vezes ajudam, mas se perturbados só veem a fazer-nos regredir :S
    boa semana
    ;*

  • Luciana Kotaka

    Já participando! Ando apaixonada por livros, saio de um entro em outro, uma delícia!!
    Se eu não ganhar, vou comprar!
    Bjks lindona

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