COMPORTAMENTO ALIMENTAR – Um comer emocional

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Lia Ades Gabbay

Você acredita realmente ser possível separar o comer da emoção? Como se o certo fosse comer apenas quando o corpo necessitasse de nutrientes, e como se um comer emocionado fosse pura fraqueza ou erro alimentar a ser corrigido?

Num mundo onde comer com prazer gera muitas e muitas vezes culpa, esse pensamento acaba por ser coerente. Mas a possibilidade de satisfação proveniente de uma pílula rica em nutrientes é pura ficção.
Se o comer não nos proporcionasse prazer, como sobreviveríamos? Por que iríamos atrás de alimento?  Além disso, preparar a comida, comer com a família, estar com amigos, presentear alimentos… tudo envolve afeto.

Comfort food

Às vezes, comer tranquiliza simplesmente porque é gostoso e relaxante.
Nossas preferências alimentares vêm de um longo aprendizado, e estão vinculadas a sensações, a memórias – de pessoas, de situações, de eventos – e a sentimentos. É corriqueiro sentimentos de segurança, amor, apreciação, de se estar em casa, estarem por trás do consumo de alimentos. Tudo isso soma-se à fome.

Comer é mesmo um comportamento complexo! Acredito que o problema não é, necessariamente, quando acontece de comermos em resposta às nossas emoções, mas quando esse comer se torna excessivo, sem controle, e acaba por nos fazer mal. Aí, sim, precisa de atenção e de intervenção.

As diferentes emoções não afetam da mesma forma um indivíduo, e os diferentes indivíduos não reagem da mesma forma à mesma emoção. Há similaridades, porém.

Menos e mais

Emoções negativas têm sido bastante estudadas, e está bem estabelecido que elas  nos fazem comer mais. As emoções positivas também parecem aumentar a ingestão de alimentos, mas isso é menos conclusivo.
Emoções mais frequentes, como alegria e raiva, parecem ter um impacto maior sobre o quanto e como comemos, em comparação com emoções menos frequentes: durante a raiva, comemos de forma mais impulsiva, ou seja, mais rapidamente, de forma irregular e descuidada, e qualquer tipo de alimento disponível. Durante a alegria há um aumento do comer por causa do gosto bom do alimento. Parece, também, que comemos mais durante o tédio, a depressão e a fadiga, e menos durante o medo e a dor.

Interessante notar que as colocações acima são válidas tanto para pessoas com peso normal quanto para pessoas com excesso de peso. No entanto, pessoas obesas se engajam significativamente mais no comer emocional , e pessoas que estão fazendo dieta também são mais propensas a comer de maneira excessiva e impulsiva, por causa de emoções.

Mecanismos

Que mecanismos estariam envolvidos no comer emocional?
Sabemos que comer funciona como um regulador do estresse emocional, ou seja, a gente come para aliviar a tensão, a ansiedade.
Ao comer, também, a gente se distrai de algum problema ou sentimento ruim. Inclusive, é comum aumentarmos o foco colocado na comida – um estímulo concreto e imediato do ambiente – para não pensarmos em algo negativo sobre nós mesmos. Pode haver uma interpretação errônea da emoção, que é confundida com fome.

Enfim…

Por que se fala tanto em “livrar-se de vez do comer emocional”? Acho que, nesse universo, as coisas são mais complexas do que simplesmente “comer apenas em função da fome”.  É claro que é importante distinguir fome e simples vontade de comer, e ter essa consciência na hora de tentar fazer escolhas mais equilibradas. É claro que é importante desenvolver outras alternativas de ação em momentos de estresse, raiva ou alegria.

Sem dúvida! Mas acho que, em vez de querer “erradicar por completo o comer emocional”, devemos ser mais realistas e partir para um autoconhecimento, um conhecer melhor as várias facetas desse comportamento, caso a caso, lembrando sempre que o comer, a fome e as emoções são ainda mais intrincados do que supomos.

(*) Lia Ades Gabbay é psicóloga, com especialização em Psicologia do Comportamento Alimentar, Transtornos Alimentares e Obesidade. Fale com ela pelo e-mail colunistas@brpress.net , pelo Twitter @brpress e/ou Facebook.

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