A preocupação exagerada com a imagem pode levar a distúrbios como bulimia e anorexia, situações que geram compulsão ou rejeição à comida e causam, sempre, muito sofrimento

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A mania de trocar um prato de comida por um copo de bebida como certa personagem de novela anda fazendo na TV está entre as mais recentes manifestações de transtorno alimentar – ou de doença ligada a ele. Os especialistas acreditam que uma predisposição genética somada a fatores diversos, como a ditadura do “quanto mais magro, melhor”, são alguns dos gatilhos desse tipo de distúrbio, que geralmente não dá as caras sozinho: um quadro depressivo geralmente acompanha 70% dos casos. Em tese, problemas com o cardápio têm se firmado como sintomas de uma sociedade rigorosamente focada na aparência e perfeição.

Nos últimos tempos, os distúrbios até então restritos a mulheres – que sempre carregaram o fardo de ser belas a qualquer custo e agora de ser belas e bem-sucedidas – arrebatam também o sexo oposto. De acordo com a instituição norte-americana National Association of Anorexia Nervosa and Associated Eating Disorders (Anad), uma entre dez vítimas é do sexo masculino, o que significa centenas de milhares de homens. Tais evidências pedem um tratamento que combine áreas da psiquiatria, psicoterapia, endocrinologia e nutrição e, se necessário, o uso de antidepressivos. Saiba mais sobre os transtornos alimentares e suas novas versões:

ANOREXIA

O horror ao peso e a obsessão por emagrecer são ideias fixas de quem padece com esse distúrbio. Mesmo vendo-se esquelética diante do espelho, a pessoa não se sente suficientemente magra. Atletas, que precisam estar em forma para competições, e atrizes e modelos, cuja imagem é o cartão de visita, são exemplos de perfis vulneráveis. Mas a doença é ainda um estigma entre muitas mulheres a partir dos 15 anos de idade. Elas fazem longos jejuns, exercitam-se sem parar, restringem sua alimentação a alface e grãos e, num ataque súbito de fome, comem além da conta para depois eliminar o que engoliram com vômitos forçados ou laxantes. Esse caso específico se refere ao tipo mais comum do problema, a chamada anorexia bulímica.

Já na sua outra versão, a anorexia restritiva, a pessoa vive à base de poucas calorias e água, mas sem ataques de compulsão. Estágios avançados da doença causam desnutrição, com perda média de 15 quilos, queda de cabelos e falha de no mínimo três períodos menstruais. No final das contas, a carência de nutrientes é tamanha que os ossos da anoréxica ficam fragilizados, quase à mercê de um quadro de osteoporose. Segundo a psiquiatra Angélica Claudino Azevedo, coordenadora do Programa de Orientação e Assistência aos Transtornos Alimentares da Universidade Federal de São Paulo (Proata/Unifesp), a família é essencial no tratamento. “Sozinhas, as pacientes não se dão conta da dimensão do problema”, alerta. As estatísticas revelam que 20% dos casos de anorexia sem tratamento acabam em morte – um número assustador.

BULIMIA

As vítimas preferenciais desse transtorno alimentar têm por volta de 20 anos e elas até toleram uma protuberância aqui e acolá na região do abdômen. “Existe entre elas maior aceitação de uma forma física dentro da normalidade”, explica Angélica. No entanto, é mais difícil diagnosticar o problema nessas jovens. A razão é simples: elas são capazes de engolir 3 mil calorias em poucos minutos praticamente sem mastigar para, logo em seguida, correrem para o banheiro e vomitarem tudo. Em outras palavras, a bulimia é um transtorno que acontece entre quatro paredes. Por esse motivo, ela acaba se tornando uma doença crônica. “Como se sentem bastante envergonhadas e culpadas com sua falta de controle, é comum essas pacientes demorarem a procurar ajuda. Fazem isso apenas depois de quatro ou cinco anos”, diz Maria Angélica, do Geata.

Um dos indícios de que a pessoa está doente é o fato de ela comer sempre muito bem – os exageros costumam acontecer mais às escondidas – e nunca engordar. Outra pista são os rastros de comida, laxantes e remédios emagrecedores que ficam pela casa. E, acima de tudo, o fato de ir ao banheiro repetidas vezes durante ou após a refeição, além de exagerar nos exercícios físicos. As consequências quase sempre ficam restritas à doente – sem delatá-la –, como inflamações constantes na garganta, alterações no esmalte dos dentes causadas pelo ácido estomacal vindo à tona com o vômito, mau hálito, alterações intestinais e renais causadas pelo uso abusivo de laxantes e diuréticos, além de problemas cardíacos. “O tratamento pode levar dois anos ou, dependendo do caso, exigir um acompanhamento prolongado por tempo indeterminado”, afirma o psiquiatra Alexandre Azevedo, do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (Ambulim), do Hospital das Clínicas de São Paulo.

DRUNKOREXIA

O apelido popular vem da união do inglês drunk, “embriagado”, com o grego orexis, “apetite”. No Brasil, o transtorno também tem sido chamado de alcoorexia. Não importa a nomenclatura: o que está em jogo é o uso da bebida alcoólica como um subterfúgio para não engordar. “A drunkorexia pode se tratar de um quadro típico de anorexia, que engloba o desejo de perder cada vez mais peso, associado à dependência do álcool para obter saciedade ou até mesmo anestesiar o sofrimento”, diz o psiquiatra Alexandre Azevedo, do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (Ambulim), do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Embora o consumo do álcool e de outras drogas seja comum em 30% dos casos de transtornos alimentares, na drunkorexia a bebida ganha muito mais ênfase. “Nesse caso, não existe compulsão por comida, e sim por álcool, que fornece calorias”, diz a psiquiatra Maria Angélica Nunes, do Grupo de Estudo e Assistência em Transtornos Alimentares (Geata), em Porto Alegre. Por isso, deve-se tratar também a dependência alcoólica. Desnutrição, interrupção dos ciclos menstruais, osteoporose precoce e problemas no fígado são algumas das graves consequências da doença.

COMER COMPULSIVO

Chamado também de transtorno da compulsão alimentar periódica, é caracterizado por rompantes de comilança, mas sem que a pessoa tente se livrar do que engoliu. “São episódios de ingestão de grande quantidade de alimentos, muitas vezes à noite, acompanhados da sensação de perda de controle e seguidos de sentimentos negativos, como culpa, arrependimento, fracasso e tristeza”, explica Alexandre Azevedo. O indivíduo é considerado compulsivo quando tem esses rompantes alimentares em média duas vezes por semana durante pelo menos seis meses.

Cerca de 30% dos obesos apresentam esse quadro, mas, diferentemente do que se pode pensar, nem todos os comedores compulsivos foram gordos antes de o problema dar as caras. “Os sintomas geralmente surgem pela primeira vez após um período de restrição alimentar, como dietas sem orientação médica, ou até mesmo devido a estresse familiar ou profissional. E a obesidade pode ser a principal consequência”, diz Azevedo. A compulsão não tem regra. Pode ser por chocolate, bolo, brigadeiro e sorvete ou até mesmo por frutas e comidas salgadas. Embora a maioria dos casos ocorra entre mulheres, também há um considerável número de homens com o transtorno, todos na faixa etária dos 20 aos 30 anos.

ORTOREXIA

Literalmente traduzida como “fixação por comer corretamente”, o termo ortorexia foi definido pelo especialista norte-americano em medicina alternativa Steven Bratman e indica a obsessão da pessoa por uma dieta saudável. “Selecionar alimentos ricos em nutrientes e proteínas e evitar o excesso de gordura e caloria faz parte da reeducação alimentar, mas esses indivíduos seguem regras que vão além da chamada boa dieta, restringindo-se cada vez mais a opções que acreditam ser saudáveis”, diz o psiquiatra Alexandre Azevedo.

A ortorexia ainda não é vista como um transtorno psiquiátrico, mas pode chegar às mesmas dimensões da anorexia e bulimia. Segundo relata Steven, ela acaba prejudicando relacionamentos e causa sérios danos físicos, como a inanição. “A pessoa chega a passar horas no supermercado lendo informações sobre procedência, higiene, seleção e preparo dos alimentos”, diz a psicanalista Dirce de Sá Freire, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). O isolamento social e a insistência em convencer outros a seguir sua alimentação são características de quem tem o distúrbio. No tratamento, é ideal que se combinem terapia nutricional e psicoterapia. “Para quebrar as crenças estabelecidas sobre uma dieta saudável e modificar lentamente o padrão alimentar com a reinserção de alimentos”, afirma Azevedo.

ONDE PROCURAR AJUDA:

>>Porto Alegre

  • Grupo de Estudo e Assistência em Transtornos Alimentares (Geata) / www.geata.med.br
  • Grupo de Transtornos Alimentares, Hospital de Clínica (marca atendimento somente se o paciente for encaminhado por alguma instituição pública de saúde) / www.hcpa.ufrgs.br

>>São Paulo

  • Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (Ambulim), Hospital das Clínicas /  www.ambulim.org.br
  • Grupo de Apoio e Tratamento dos Distúrbios Alimentares (Gatda) / www.gatda.psc.br
  • Programa de Orientação e Assistência aos Transtornos Alimentares (Proata), Unifesp / www.proata.cepp.org.br
  • Grupo de Estudos em Nutrição e Transtornos Alimentares (Genta) / www.genta.com.br
  • Projeto de Investigação e Intervenção na Clínica da Anorexia e da Bulimia, Instituto Sedes Sapientiae / www.sedes.org.br
  • Programa de Atenção à Mulher Dependente Química (Promud), Hospital das Clínicas / www.mulherdependentequimica.com.br

>>Ribeirão Preto (SP)

  • Grupo de Assistência aos Transtornos Alimentares (Grata), Hospital das Clínicas / www.hcrp.fmrp.usp.br / (16) 3602-2559

>>Marília (SP)

  • Programa de Transtornos Alimentares, Hospital de Clínicas (marca atendimento somente se o paciente for encaminhado por alguma instituição pública de saúde) / www.famema.br

>>Rio de Janeiro

>> Curitiba (PR)

  • Ambulatório de Transtornos Alimentares, Universidade Tuiuti do Paraná / www.utp.br / (41) 3331-7700 / 7979 / 7846

>>Goiânia

>>Fortaleza

  • Centro de Estudos e Tratamento em Transtornos Alimentares (Cetrata), Hospital das Clínicas / www.huwc.ufc.br / (85) 3366-8149


>>Belo Horizonte

  • Grupo Interdisciplinar de Obesidade e Transtornos Alimentares (Gota), Hospital Socor / www.socor.com.br / (31) 3330-3126


Saiba mais:

Por: Débora Didonê

Fonte: Abril.com – Saúde! É Vital

Comentários
  • Tatiana

    Não conhecia a DRUNKOREXIA.Agora tenho medo mesmo é do COMER COMPULSIVO pois sou muito ansiosa e quando to nessa fase como e nem vejo o que to comendo!!!

    Abraços!

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